Cusquices

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Infância


Era uma menina de estatura pequena, franzina e muito irrequieta, diria mesmo como muitos gostavam de lhe chamar,”Maria Rapaz”!
Nos dias gélidos e tempestuosos que se faziam sentir naquela altura, pela manhã muito cedo, artilhava-se a Maria com botas castanhas, altas, de fecho lateral, muito orgulhosa das ditas; gorro amarelo-torrado de lã grossa, tricotado pela mãe, do qual era inseparável, muitas vezes até para dormir e cachecol igual.
Às costas a mala rectangular, verde azeitona de duas alças e na mão a cesta de verga com o almoço “jantar” e lanche, tão simples que ninguém hoje o imaginaria.
Partia a Maria por montes e vales, vento e chuva forte, passava a ribeira com muita dificuldade, de pedra em pedra a saltitar, quando a fúria das águas deixava, e fazia assim 3 km de jornada matinal, para a repetir novamente no final do dia.
Mas que prazer ela sentia em fazer essa caminhada, como era feliz a Maria por ir mais um dia para a escola.
À noite, à lareira e à luz das lamparinas a petróleo, “sem televisão é claro”, enquanto a família e amigos se reuniam a jogar às cartas ou simplesmente a contar velhas histórias e lendas, adormecia ao colo de sua mãe, e chegava a acordar sobressaltada a pensar que já era novamente hora de levantar.
Muitas vezes sentava-se ao colo do tio, homem muito alto e charmoso, e ouvia deleitada, histórias de fadas, castelos, príncipes e princesas e bruxas más, tiradas bem lá do fundo do bolso do casaco ou da calça, com muito espanto e alegria.
Que saudades e que boas lembranças daquele tempo…Que saudades da ingenuidade e tranquilidade da infância… Que saudade!

A lembrança da infância é o único sonho real que nos resta na fase madura da vida, os demais são meras utopias.

3 comentários:

  1. São
    Esta "Maria - menina" encanta-me.
    Repara nas diferenças, para os dias de hoje.
    O que ontem fazia uma criança feliz, hoje é considerado de tal modo ultrapassado,que se as criancinhas, não tiveram calças e ténis de marca, nintendo, hiphone, etc.etc. já são olhadas como pobrezinhas.
    E pobre é aquele que não valoriza o que lhe é dado com amor.
    Gostei muito do texto. Continua a dar-nos mensagens destas.
    Um beijo

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  2. Obrigada Eduarda.
    Muitas vezes temos uma noção muito errada da felicidade.
    Essa foi realmente uma fase muito feliz.
    Bjs

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  3. Ohn tão querida :D * Beijinho mamã *

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